Machado de Assis é um dos maiores nomes da literatura brasileira. Nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, em uma família humilde, e enfrentou dificuldades financeiras desde cedo.
Autodidata, construiu uma trajetória intelectual impressionante, passando por funções como tipógrafo, cronista, funcionário público até se tornar um escritor consagrado.
Sua escrita é sofisticada, cheia de ironia e crítica, o que o colocou como uma figura central na cultura literária do Brasil.
A sua importância para a literatura brasileira vai além do país. Sua obra influenciou profundamente a literatura brasileira, graças ao estilo original, à análise psicológica detalhada e à crítica social sutil.
Durante sua carreira, ele rompeu com o romantismo e criou um novo jeito de narrar, que provoca reflexão e desafia o leitor.
Neste artigo, vamos explorar os principais pontos da vida e formação de Machado de Assis, a evolução de sua carreira literária, as características marcantes da sua escrita, seus livros de Machado de Assis mais famosos e o legado que deixou para a literatura brasileira.
Continue lendo para conhecer melhor esse autor fundamental para a literatura brasileira e entender quem foi Machado de Assis.
Índice
Origem de Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, uma área pobre do Rio de Janeiro. Era filho de Francisco José de Assis, pintor de paredes, e Maria Leopoldina Machado de Assis.
Perdeu a mãe ainda criança e foi criado pela madrasta, Maria Inês da Silva. Desde jovem, enfrentou graves dificuldades econômicas e teve acesso só à educação básica.
A sua formação intelectual foi construída principalmente por conta própria, por meio da leitura, da convivência com pessoas do meio editorial e do trabalho como tipógrafo e revisor na Imprensa Nacional e na tipografia de Paulo Brito, o que é parte da biografia de Machado de Assis.
Estudiosos apontam que sua sólida formação veio da disciplina e da inteligência fora do comum.
O escritor viveu entre o século XIX e o começo do XX, um período de grandes mudanças no Brasil: monarquia, Guerra do Paraguai, abolição da escravidão em 1888 e Proclamação da República em 1889. Esses fatos influenciaram muito sua visão de mundo.
O Rio de Janeiro, apesar das estruturas racistas e elitistas, era o centro político e cultural do país. Nesse cenário, Machado foi um observador atento e irônico, sempre consciente das relações sociais e dos jogos de poder.
Negro, epilético e de origem humilde, Machado é um caso raro de ascensão intelectual em uma sociedade muito excludente. Ele entrou em espaços elitizados graças a estratégias discretas: evitava confrontos diretos e mantinha uma postura reservada.
Mesmo que a sua raça e condição social não apareçam explicitamente na obra, estão presentes na ironia e na crítica às estruturas sociais.
Sua carreira como funcionário público, cronista e romancista mostra um domínio refinado das estratégias sociais e discursivas, que lhe permitiram circular entre as elites intelectuais sem cair em estereótipos ou exotismos comuns a escritores negros.
Em vida, já era visto como o maior escritor de sua geração. Fundou e presidiu a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando uma posição de grande prestígio.
Foi elogiado por críticos como José Veríssimo e Sílvio Romero, mas também recebeu críticas por um suposto estilo “excessivamente europeu”. Depois de morrer, em 1908, sua fama só cresceu.
No século XX, tornou-se o principal nome da literatura brasileira, com obras traduzidas, estudadas e reinterpretadas sob várias perspectivas.
Esse reconhecimento mostrou ainda mais a complexidade e o valor estético da sua obra, rompendo com leituras superficiais que o viam só como moralista ou conservador. Assim, Machado virou uma figura indispensável no cânone literário do Brasil, consolidando seu estilo da escrita de Machado de Assis.
Formação e Carreira de Machado de Assis

Machado teve uma formação bem diferente: era autodidata. Sua infância humilde não permitiu uma educação formal de qualidade, ele nunca frequentou universidade.
Mesmo assim, mostrou uma inclinação intelectual fora do comum, frequentando bibliotecas públicas, livrarias do Rio e convivendo com gente do meio editorial para aprender.
Estudou autores renomados como Shakespeare, Cervantes, Pascal, Montaigne, Racine, Molière e Goethe, além dos romances franceses e portugueses. Essas leituras ajudaram a formar o Machado que conhecemos.
Mas sua formação não veio só dos livros: também aprendeu observando e desenvolvendo um estilo da escrita de Machado de Assis crítico e reflexivo próprio.
Profissionalmente, começou na gráfica, como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional quando era adolescente. Esse trabalho não foi só um emprego, mas uma escola: ali teve contato direto com a linguagem da imprensa, o ritmo da produção editorial e os debates da época.
Depois, virou revisor, redator e cronista. Trabalhou em jornais e revistas como Diário do Rio de Janeiro, Gazeta de Notícias e Revista Brasileira.
Publicava com vários pseudônimos e usava a crônica para fazer críticas sociais indiretas, satíricas e sofisticadas.
Como funcionário público, trabalhou no Ministério das Obras Públicas e depois no Ministério da Agricultura, onde conseguiu cargos importantes e estabilidade financeira. Isso lhe deu liberdade para se dedicar à literatura sem depender dela para se sustentar.
Sua produção literária começou no Romantismo, com obras como Crisálidas (1864), mas atingiu seu auge com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que marcou o começo de uma fase nova, com muita filosofia, ceticismo e experimentação narrativa.
Obras como Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó formaram o estilo irônico, analítico e inovador dele. Machado foi uma ponte entre romantismo e realismo, sem seguir nenhuma escola de forma rígida, mas dialogando com todas.
Além disso, teve papel importante na institucionalização das letras brasileiras. Em 1897, ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras (ABL), inspirada na francesa, e foi seu primeiro presidente até morrer.
Machado era respeitado não só pela obra, mas pela postura reservada, elegante e crítica. Na ABL, um espaço dominado pela elite, ele foi reconhecido como autoridade moral e intelectual, virando um árbitro da cultura do Brasil do início do século XX.
Sua presença na Academia simbolizou a trajetória de alguém que, apesar das limitações raciais e sociais do século XIX, ocupou um cargo de poder sem abrir mão de sua visão crítica da sociedade.
Os Principais Livros de Machado de Assis

Machado de Assis construiu uma vasta e complexa obra, composta por romances, contos, crônicas, poesias, peças de teatro e ensaios críticos. Entretanto, foi com os romances e contos que atingiu maior prestígio literário, especialmente a partir da segunda fase de sua produção, marcada pelo realismo e pela ironia.
Sua trajetória como romancista inicia-se com a fase romântica, em que se destacam obras como Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
Esses livros de Machado de Assis, embora influenciados pelo romantismo, já apresentam elementos de introspecção psicológica e crítica social que viriam a se aprofundar mais tarde. Podemos destacar:
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), obra inaugural da fase realista de Machado. Neste romance, o narrador é um defunto que relata suas memórias a partir do túmulo, num tom sarcástico e pessimista. A estrutura fragmentada, a metalinguagem e a crítica à sociedade brasileira do século XIX fazem desta obra um marco do realismo não só no Brasil, mas em toda a literatura ocidental.
- Quincas Borba (1891), romance que aprofunda a crítica à sociedade através do personagem Rubião, herdeiro do filósofo Quincas Borba e adepto do “Humanitismo”, uma doutrina irônica que representa uma paródia do darwinismo social e do positivismo da época.
- Dom Casmurro (1899), talvez sua obra mais conhecida e estudada, o narrador Bentinho reconstrói suas memórias e sua relação com Capitu, numa narrativa ambígua e envolvente. A suposta traição de Capitu e o ciúme doentio do narrador suscitam interpretações diversas, sendo um dos maiores exemplos de narrador não confiável da literatura brasileira.
- Esaú e Jacó (1904) traz a história dos irmãos Pedro e Paulo, que representam posições políticas opostas (monarquia e república), em um Brasil em transição. O romance simboliza o impasse ideológico e a incerteza histórica da virada do século XIX para o século XX.
- Memorial de Aires (1908), último romance publicado em vida, apresenta um tom mais sereno e reflexivo. O narrador, Conselheiro Aires, registra em seu diário os acontecimentos e sentimentos de sua velhice, oferecendo uma visão desencantada, mas ainda sensível, da condição humana.
Além dos romances, Machado de Assis destacou-se como mestre do conto. Entre suas coletâneas mais importantes estão Histórias da Meia-Noite (1873), Papéis Avulsos (1882), Histórias Sem Data (1884) e Páginas Recolhidas (1899).
Contos como “O Alienista”, “Missa do Galo”, “Uns Braços”, “A Cartomante” e “A Causa Secreta” são exemplos notáveis de sua habilidade em condensar, em poucas páginas, temas profundos, personagens complexos e críticas mordazes à sociedade.
Essas obras consagram Machado de Assis como um escritor de alcance universal, capaz de aliar estilo refinado, crítica social e exploração psicológica num conjunto literário de valor inestimável para a cultura brasileira e mundial.
Características da Escrita de Machado de Assis

Machado de Assis apresenta uma escrita singular, marcada por algumas características que o tornam um dos autores mais estudados e admirados da literatura brasileira.
Um traço fundamental é a ironia fina e constante, que atravessa seus textos como uma lente crítica, desconstruindo valores sociais e morais da época.
Essa ironia, muitas vezes sutil e ambígua, deixa o leitor diante da incerteza sobre a veracidade dos narradores ou mesmo das ações descritas. Essa ambiguidade é um convite à reflexão crítica, pois Machado não entrega respostas fáceis.
Outra característica importante é o uso de narradores complexos e pouco confiáveis, que nem sempre expõem a verdade ou apresentam versões parciais dos fatos. Isso torna a leitura desafiadora, pois o leitor precisa interpretar os múltiplos sentidos por trás da narrativa.
O autor destaca-se ainda pela análise psicológica profunda dos personagens, focando não apenas nas ações externas, mas no mundo interior, nos desejos, nas contradições e nas motivações. Machado antecipou técnicas da psicologia moderna, explorando a subjetividade humana de forma inovadora.
Sua narrativa também é marcada pela quebra das convenções tradicionais, experimentando com a estrutura, o tempo e a voz narrativa. Em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele utiliza um narrador defunto, fragmentação temporal e interrupções metalinguísticas, ou seja, momentos em que o texto fala sobre si mesmo.
No aspecto linguístico, Machado usa uma linguagem econômica, elegante e precisa, evitando exageros e floreios desnecessários. Seu português é culto, porém acessível, com vocabulário rico e construções claras.
Por fim, destaca-se o uso de um humor sutil e refinado, presente mesmo em temas sérios e trágicos. O humor surge como ironia, sarcasmo ou sarcasmo disfarçado, ajudando a desmontar preconceitos e hábitos sociais.
Toda essa complexidade estilística faz de Machado um autor que dialoga com o leitor de forma ativa, desafiando-o a pensar e a questionar as aparências, reafirmando o estilo da escrita de Machado de Assis.
Importância para a Literatura Brasileira

A importância para a literatura brasileira de Machado de Assis é enorme e multifacetada. Ele é considerado o maior escritor do país por vários motivos que ultrapassam a qualidade técnica da sua obra.
Primeiro, Machado foi um inovador literário que rompeu com o romantismo tradicional e introduziu o realismo psicológico e a ironia como ferramentas narrativas. Essa inovação renovou a literatura brasileira, dando-lhe um caráter mais crítico, complexo e universal.
Além disso, sua obra possui uma profunda universalidade, pois, embora trate do Brasil do século XIX, aborda temas e dilemas humanos que transcendem o tempo e o espaço. Machado dialoga com escritores internacionais como Flaubert, Dostoievski e Shakespeare, colocando a literatura brasileira no panorama mundial.
Outro ponto fundamental é que Machado ajudou a fundar a cultura literária nacional, tornando-se referência para gerações de escritores, críticos e leitores.
Sua obra é obrigatória nos currículos escolares e universitários, sendo estudada e re-estudada em diferentes abordagens.
Através de sua crítica sutil e indireta, Machado promoveu uma reflexão social e política sobre as contradições do Brasil imperial e da Primeira República, tratando temas como racismo, desigualdade, poder e moralidade. Essa crítica permanece atual e necessária para a compreensão da história e da sociedade brasileiras.
Por fim, o legado de Machado de Assis é duradouro e vivo. Suas obras continuam a ser adaptadas para o teatro, o cinema, a televisão e outras mídias, ampliando seu alcance.
O impacto dele na literatura brasileira é inquestionável, consolidando o Brasil como um país com uma tradição literária rica e plural.
Assim, quem busca entender a literatura brasileira e suas raízes não pode deixar de conhecer profundamente quem é Machado de Assis e a força do seu legado literário.
Conclusão
Chegamos ao fim de mais um artigo. Espero que tenha aproveitado e aprendido um pouco mais sobre Machado de Assis. Entender que ler a sua literatura é mergulhar em um universo literário de contínua provação e questionamento da condição humana e da social.
As suas obras, embora tenham sido escritas há tempos, permanecem tão atuais quanto eram nos seus dias. A leitura é, portanto, um convite ao pensamento crítico e à apreciação da beleza escrita por um dos maiores nomes da literatura brasileira.
Comente abaixo qual é a sua obra favorita do autor e não se esqueça de compartilhar esse artigo com outros aficionados pela literatura!
Referências
BOSI, Alfredo. Machado de Assis: o enigma do olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
COUTINHO, Milton. Autobiografia póstuma de Machado de Assis. Rio de Janeiro: 7Letras, 2024.
GLEDSON, John. Por um novo Machado de Assis: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.