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O Que é Gênero Literário

O conceito de gênero literário é muito importante para que nós possamos entender a literatura enquanto prática artística, cultural e histórica. Longe de ser uma simples cauterização, o gênero literário representa uma orientação tanto para a criação quanto a recepção dos textos. 

Funciona como um sistema que conecta os autores e leitores. A classificação dos gêneros literários permite a leitura crítica e a interpretação mais profunda da obra, porque nos permite identificar padrões e variações que fizeram parte de diferentes contextos históricos e culturais. 

Neste artigo, vamos fazer uma reflexão abrangente sobre o que é gênero literário, quais são os gêneros literários, como são classificados os gêneros literários e como identificar os gêneros literários. Continue lendo e compreenda de uma vez por todas os gêneros literários!

Gênero literário

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Foto de Suzy Hazelwood, via Pexel Licença: Pexels License (uso livre, inclusive comercial).

Podemos entender o gênero literário como uma convenção histórica, social e cultural que organiza a criação e a interpretação dos textos. Longe de apresentar categorias fixas ou naturais, podemos dizer que os gêneros são formas dinâmicas de estruturar o discurso, expressando a relação e expectativa entre autores e leitores.

Essa convenção atua como uma espécie de “moldura” que orienta a produção textual ao definir os modos como podemos reconhecer a construção narrativa, de escolha de temas e de organização formal. 

No entanto, os gêneros não permanecem imóveis, mas estão passando por transformações ao longo do tempo, adaptando-se às mudanças que ocorrem na cultura, na sociedade e na história.

Um gênero literário pode surgir da combinação, da transformação ou da renovação de gêneros que já existiam, refletindo sempre as exigências e os valores de seu contexto. Além de determinar a estrutura dos textos, os gêneros servem como ferramentas de comunicação, possuindo papéis pragmáticos e ideológicos. 

Também são espaços de inovação, contestação e resistência cultural, assim, novas estruturas se formam para atender às novas realidades e expectativas.

A dinâmica dos gêneros revela que a literatura é, em sua essência, uma prática histórica. Os gêneros não apenas reúnem textos semelhantes, mas também participam ativamente das mudanças literárias, atuando como agentes transformadores. 

Compreender os gêneros literários significa entender as forças de transformação que atravessam a história da literatura, revelando as estratégias pelas quais os textos dialogam com seus contextos sociais e culturais.

Dessa forma, quando refletimos sobre o que é gênero literário, devemos vê-lo como um sistema que está em constante mudança e cuja principal característica é a capacidade de se transformar e de corresponder às novas exigências da experiência humana. Estudar os gêneros é acompanhar e entender o contínuo processo de renovação e recriação da literatura ao longo do tempo.

Afinal, quais são os gêneros literários?

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Ilustração de A Odisseia, por Aristide Maillol, publicada em 1910 pela Insel-Verlag, Leipzig. Fonte: Wikimedia Commons. Licença: Domínio público.

A identificação dos gêneros literários é uma prática tão antiga quanto a própria ideia do que é a literatura. Desde as primeiras classificações, os gêneros serviram para reunir textos que compartilhavam estruturas, temáticas ou funções semelhantes. 

Segundo a teoria moderna, a ideia de gênero não pode ser vista como um conjunto de categorias fixas, mas como um processo vivo e que está em constante transformação. De acordo com a tradição, a literatura foi organizada em três gêneros principais: épico, lírico e dramático. Essa divisão, que vem da tradição clássica, ainda é fundamental para entender a literatura ocidental:

  • Épico: Possui a característica de narrar feitos grandiosos, envolvendo heróis, jornadas e eventos extraordinários. Podemos citar como exemplos clássicos as epopéias homéricas: A Ilíada e a Odisseia. Com o passar do tempo, o gênero épico deu origem ao romance e ao conto.
  • Lírico: Centrado na expressão de sentimentos e estado subjetivo, o gênero lírico coloca a interioridade e a linguagem poética como foco. Obras como os sonetos de William Shakespeare são bons exemplos.
  • Dramático: Apresenta ações humanas através do diálogo e da performance. Busca a encenação teatral. Clássicos como as tragédias de Sófocles e as comédias de Aristófanes ilustram as primeiras expressões desse gênero. Com o tempo, o gênero se diversificou, formando a tragédia, a comédia, a tragicomédia e, em seguida, formas modernas como o teatro do absurdo.

Mesmo que essa divisão tenha sobrevivido ao tempo, a teoria moderna dos gêneros entende que novos gêneros vão surgir e continuarão a surgir à medida que a literatura corresponda às mudanças sociais e culturais. Assim, ao pensar em quais são os gêneros literários, devemos incluir também subgêneros e gêneros mistos, como:

  • Romance: derivado do épico, o romance talvez tenha produzido mais obras na modernidade. Assumindo diversas formas como o romance histórico (Guerra e Paz, de Tolstói), o romance psicológico (Dom Casmurro, de Machado de Assis) e o romance policial (Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie).
  • Conto: Breve narrativa em prosa que se consolidou especialmente a partir do século XIX, com autores como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft.
  • Novela: Esse gênero é um intermediário entre o conto e o romance, com exemplos como A Metamorfose, de Franz Kafka.
  • Autoficção: Mistura de elementos autobiográficos com invenção narrativa, presente em Morreste-me, de José Luís Peixoto.
  • Sátira: Gênero que mescla o lírico e o narrativo para criticar costumes, instituições ou comportamentos sociais. Está presente em obras como A Modesta Proposta, de Jonathan Swift.
  • Fantástico: Explora a relação entre o real e o sobrenatural. É frequentemente exemplificado em obras como as de Edgar Allan Poe e Jorge Luis Borges.

Além desses, a teoria moderna reconhece a existência de gêneros híbridos, onde as fronteiras entre os gêneros são transgredidas. Obras que misturam poesia e narrativa, drama e relatos históricos, ou ficção e ensaios estão se tornando cada dia mais comuns. 

Isso reforça a ideia de que a literatura está em um processo contínuo de mudanças. Entender quais são os gêneros literários não significa apenas reconhecer as classificações tradicionais, mas também estar atento às múltiplas variações e novas configurações que surgem ao longo da história. Assim, o estudo dos gêneros é constante.

Como são classificados os gêneros literários

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Foto de Suzy Hazelwood, via Pexels. Licença: Pexels License (uso livre, inclusive comercial).


A classificação dos gêneros literários surgiu como uma forma de organizar as diversas formas e modos de expressão na literatura. Vimos que, desde os tempos antigos, buscou-se unir e classificar os textos literários segundo alguns critérios que consideram a sua estrutura formal, conteúdo temático, função social e os efeitos que produzem no público.

As teorias modernas mostram que essa classificação não é rígida e nem mesmo universal. Para ela, a classificação vai acompanhar as transformações culturais e sociais, e isso vai influenciar a produção literária. 

Também vimos que a classificação histórica que permaneceu, mesmo com a ação do tempo, é a de que o gênero literário deve se dividir em três grandes gêneros principais: épico, lírico e dramático.

Essa tríade, que tem origem greco-romana, estabeleceu as bases do pensamento ocidental sobre os gêneros literários e ainda permanece como referência para muitas classificações modernas. Para além da divisão tradicional, outras maneiras de organização surgiram ao longo do tempo.

Uma delas se baseia em critérios formais e estruturais, pois considera elementos como a forma textual (verso ou prosa), a presença ou ausência de narrador, a estrutura do enredo (linear, fragmentado, circular) e o uso da linguagem (mais formal, comum, metafórica ou objetiva).

Esses critérios ajudam a diferenciar, por exemplo, o romance do conto, ao reforçar elementos técnicos que também têm um papel importante na categorização. 

Outro fator de classificação leva em conta a temática e a funcionalidade da obra. Dessa forma, os textos também podem ser agrupados de acordo com os temas que eles abordam, como o heroísmo, amor, tragédia, crítica social, fantasia, realismo ou história.

A função do texto também exerce influência. O texto pode desempenhar a função de educar, entreter, provocar reflexão ou questionar valores. A sátira, por exemplo, tem como principal fator de classificação a crítica social, geralmente utilizando o humor e a ironia. A tragédia, por sua vez, tende a refletir sobre a condição humana diante de forças imutáveis, como o destino ou a culpa.

As classificações modernas também incluem o conceito de modos literários como alternativa ou para complementar os gêneros. Em vez de pensar em categorias rígidas, considera que alguns modos, como o trágico, o cômico, o sátiro e o pastoral, são formados a partir de características de diversos gêneros. 

O trágico, por exemplo, está presente tanto na tragédia clássica quanto em romances modernos que são marcados pela tensão existencial. Já o cômico se expressa nas comédias teatrais, narrativas irônicas ou sátiras. Essa ideia traz uma visão mais flexível, pois reconhece que obras podem utilizar diferentes tons, posturas ou perspectivas.

Outro critério que é muito relevante é o histórico e evolutivo. A partir dele, os gêneros são percebidos como construções culturais, e por conta disso, se desenvolvem e se transformam ao longo do tempo, acompanhando as mudanças nas sensibilidades e nas práticas sociais. 

Alguns gêneros como o romance, que hoje domina a literatura moderna, teve sua origem em gêneros mais antigos, como nas epopeias. Com o tempo, surgiram subgêneros e novas formas, como a autoficção, o romance gráfico e o ensaio literário. Esse critério também se opõe à ideia de classificação fixa e compreende a sua mutabilidade.

Além dos critérios mencionados, as teorias modernas também chamam atenção para a fluidez e a mistura entre os gêneros. Muitas obras da atualidade não se encaixam em uma única categoria, sendo assim, uma mistura de características de diferentes tradições. 

É cada vez mais comum encontrar obras compostas por elementos líricos, peças teatrais que usam a narrativa épica ou romances que misturam trechos de ensaios e elementos autobiográficos. 

Parece claro que o processo de como são classificados os gêneros literários não é apenas um exercício de organização, mas um modo pelo qual podemos compreender a riqueza e a diversidade da criação literária.

Como identificar os gêneros literários

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Foto de Tima Miroshnichenko, via Pexels. Licença: Pexels License (uso livre, inclusive comercial).

Para identificar um gênero literário em uma obra é preciso reconhecer os elementos que estruturam um texto segundo as convenções históricas, formais, temáticas e funcionais. 

A literatura não se apresenta em uma forma livre, mas está organizada em padrões de repetições e variações que ajudam os leitores e os estudiosos a colocarem a obra dentro de uma categoria.
Embora que esses padrões, muitas vezes, sejam flexíveis e sujeitos a transformações, eles ainda oferecem diretrizes úteis para identificar o gênero que o texto pertence. Um dos primeiros critérios de identificação é a forma textual. 

O gênero lírico, por exemplo, tende a se apresentar em verso e focar na musicalidade e na subjetividade. Já o narrativo aparece, grande parte do tempo, em prosa e envolve um enredo estruturado, personagens, espaço, tempo e narrador.

O gênero dramático se diferencia pela sua construção em forma de diálogo, quase sempre, sem a presença de um narrador aparente, voltado à encenação. Outro ponto fundamental é a presença e a função do narrador. 

Em textos narrativos, como o romance ou o conto, o narrador ocupa um papel central, seja ele na primeira, segunda ou terceira pessoa. Em gêneros líricos, a voz poética encontra a sua expressão sendo direta, funcionando como uma espécie de manifestação interior do sujeito. 

Já no drama, como nas tragédias e comédias, a narrativa se constrói principalmente pelas falas e ações dos personagens, o que exige que o leitor retire os elementos narrativos a partir da performance e do diálogo.

A estrutura do enredo também é uma ferramenta valiosa. Textos lineares, com começo, meio e fim bem definidos, costumam se aproximar mais da tradição épica ou narrativa. Textos mais fragmentados, circulares ou que rompem com a progressão lógica do tempo e da ação podem indicar textos mais modernos ou híbridos

Agora podemos nos distanciar um pouco das características mais formais e entender o papel dos temas que são abordados na obra para identificar o gênero literário. Textos que têm como foco a interioridade emocional do personagem costumam ser líricos.

As narrativas com enredos de aventura e guerras se aproximam mais das epopeias. Conflitos pessoais, sociais ou até mesmo políticos podem ser vistos como tragédias, comédias ou dramas, dependendo do tom e da estrutura. 

A sátira, por sua vez, nos direciona a um tipo de discurso crítico e irônico, comum em textos que se propõem a confrontar valores ou o comportamento social.

O efeito pretendido também é um bom indicador. Textos que buscam provocar comoção ou reflexão tendem a se inserir no trágico. Já os que têm como objetivo provocar riso ou alívio cômico se aproximam do cômico. Outras obras que idealizam a natureza ou o campo podem ser compreendidas como pastorais. 

Esses modos não substituem os gêneros, mas ajudam a compreender como as mais diversas obras se organizam emocional e ideologicamente.

O contexto histórico em que a obra foi produzida também deve ser levado em conta. Muitos gêneros surgiram ou passaram por transformações em resposta a mudanças culturais e sociais. O que é reconhecido no século XVIII, por exemplo, é muito diferente do que conhecemos hoje como romance.

E não poderia faltar a leitura comparativa. Esse instrumento é usado para medir a proximidade ou a distância de uma obra das outras. O leitor pode, assim, reconhecer traços comuns que o posicionam dentro de uma determinada tradição. 

Esse modo intertextual mostra que os gêneros também conversam com textos e práticas culturais, e que a identificação de um gênero literário depende, em alguma medida, da experiência e do repertório do leitor. 

Por fim, podemos dizer que saber como identificar os gêneros literários requer observar a forma textual, o papel do narrador, a estrutura narrativa, os temas tratados, os efeitos buscados, o contexto histórico e as relações intertextuais.

Conclusão

Compreender os gêneros literários é entender a natureza dinâmica presente na literatura. A sua categorização não é fixa: os gêneros são alterados ao longo da história por influência cultural, social e estética. 

Mesmo que a divisão clássica (épico, lírico e dramático) ainda seja importante, a literatura moderna expandiu esse limite e adicionou subgêneros, categorias híbridas e modos narrativos que romperam com a rígida classificação.

Essa grande diversidade não apenas expressa a complexidade humana, mas também denota a própria variedade da criação literária. Identificar o gênero literário de uma obra vai muito além de reconhecer uma forma: é perceber como os aspectos formais, temáticos e funcionais se conectam com o contexto em que a obra foi produzida.

No fim das contas, estudar os gêneros literários é acompanhar a maneira pela qual a literatura conversa com o mundo e com o seu tempo, sempre se reinventando a cada leitura, a cada escrita. 

E você, já pensou em tudo isso enquanto folheava as páginas de um livro? Deixe nos comentários, queremos saber a sua resposta! E não se esqueça de compartilhar esse artigo com outros amantes da literatura.

Referências

FOWLER, Alastair. Kinds of literature: an introduction to the theory of genres and modes. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1982.
Disponível em: https://archive.org/details/kindsofliteratur0000fowl. Acesso em: 28 abr. 2025.

DUFF, David (Ed.). Modern genre theory. Harlow: Longman, 2000.
Disponível em: https://archive.org/details/moderngenretheor0000unse. Acesso em: 28 abr. 2025.

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